Olá, meus amigos! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim.
Hoje o post é um pouco diferente.
Para todos nós, o ano de 2020 foi um ano muito difícil, cheio de nuances que envolvem reflexões, tristezas, dentre outros sentimentos. Não podemos nos esquecer, também, dos aprendizados. Não obstante todas as dificuldades causadas pela pandemia, notadamente na população que depende da normalidade da vida para seu sustento, também nos foi oportunizado muito aprendizado.
Para mim, com a graça de Deus, a reflexão foi uma das coisas mais importantes, não tendo outros problemas maiores, como muitos colegas próximos tiveram: a perda de entes queridos para o coronavírus. Não profetizo nenhuma religião ou filosofia, gosto de muitas, algumas até contraditórias entre si quanto a alguns elementos, mas todas em prol da melhoria pessoal. Dentre elas, gosto muito de aprender sobre o estoicismo, e uma frase estóica que acho interessante para refletir é memento mori.
Memento mori possui o significado de lembrança de que somos mortais, muito mencionado por Sêneca e Epíteto. Uma delas:
“Vamos preparar nossas mentes como se tivéssemos chegado ao fim da vida, pois não adiamos nada. Assim, temos de equilibrar os livros da vida todos os dias. Aquele que dá os retoques finais na sua vida a cada dia nunca fica sem tempo.” – Sêneca,
Dito isto, muitos de vocês sabem que em 2019 eu optei por parar meus estudos para concurso, em razão do meu filho. Não queria, não quero, e não pretendo ficar longe dele em razão de cargo nenhum. Além disso, há outro fator, lembrado pelo nosso amigo Rockwell, o famoso @concurseiro.bolado. Muitas vezes conseguimos algo magnífico, fruto de nosso esforço, e não damos valor, porque queremos sempre mais, e no concurso público não é diferente. Esse nosso colega, por exemplo, é Advogado da União, e confessou que não se sentia realizado, porque internalizou que queria ser Magistrado Federal. Isso fazia com que ele se cegasse para sua conquista como AGU, que é um cargo excelente, inclusive com remuneração maior do que magistrado federal.
O que eu quero dizer é que às vezes nós não aproveitamos a vida no HOJE, e acabamos, por muitas vezes, deixando o tempo passar, acreditando que a vida só vai começar quando conseguirmos alcançar nosso objetivo. O problema é que, enquanto isso, o tempo passa. Todo santo dia, a vida passa. Ah, tudo bem, tem que fazer um pouquinho todos os dias… Sim, temos que fazer um pouquinho todos os dias, mas gratos com aquilo que já temos hoje, e saber que o resultado desejado será fruto desse pouquinho diário, mas sem postergar a felicidade somente para quando seu resultado vier, pois assim iremos matar os dias que se passam sem aproveitar.
Eu mesmo caí neste conto. Não sei as razões pelas quais eu botei na cabeça que queria ser Juiz Federal/MPF. Se era uma prova para mim de que eu era capaz, ego, ou algo do tipo. O fato é que, após 7 anos de trabalho no Judiciário, percebi que não era pelo trabalho em si que eu queria isso. Serviço público é algo burocrático, e infelizmente, não conseguimos ser o herói que queremos ser. Não conseguimos mudar a sociedade como desejamos, notadamente porque você é só uma peça da engrenagem, que é o sistema. Quando você tenta subverter o sistema, licitamente ou ilicitamente, ainda que em prol da sociedade e do povo, ou de uma ideologia que você prega ser a correta, infelizmente você será perseguido. Vide Operação Lava-Jato, Juízes, MPFs atuantes, Delegados, e outros: nenhum está onde estavam àquela época. Todos afastados das investigações.
Não estou dizendo que o serviço público não seja algo bacana. Ele é. Ele muda a vida daqueles que entram, mas em sua pessoalidade (família, vida pessoal), e não mudanças no sistema. Infelizmente o mundo ainda não é evoluído o suficiente como queria Thomas Moore, em sua obra Utopia, com algumas ressalvas, claro. Onde quero chegar com isso?
Bom, neste ano, em 2021 eu tive uma oportunidade de ir para a iniciativa privada, porém, seria necessário abrir mão do serviço público, já que as atividades judiciárias são incompatíveis com atividades privadas empresariais, por força legal. Eu saí. Pedi exoneração da Justiça Federal, e confesso que isso foi libertador.
Volto a dizer: o serviço público mudou a minha vida, pois me trouxe muitas coisas boas. Mas o que quero dizer com isso é que essa decisão me trouxe, nas semanas seguintes, uma leveza. Com essa decisão, também optei por deixar de estudar e seguir a vida sem aquela cobrança que me cegava: preciso ser um Membro.
O concurseiro é tão bombardeado com lições de foco, constância e persistência, que não para(verbo) para veros limites disso e esquece de enxergar outras possibilidades para além da bolha. E fica a questão: até que ponto (ou até quando) vale a pena lutar por um sonho? @markosolima
Apesar de ter estado na condição de assessor, de receber ordem de dois juízes e um diretor, a relação no trabalho não era ruim. Tínhamos um ótimo clima de trabalho no gabinete, e eu não era insatisfeito com o trabalho. O que me deixava insatisfeito era o fato de eu não ser, naquele momento, aquilo que eu queria ser. Era uma cobrança injusta comigo, seja pela idade, seja por qualquer outro motivo. Eu tinha tudo o que precisava, e ainda sim sentia-me insatisfeito, com aquele sentimento de que a completude só viria quando eu alcançasse o meu tão sonhado cargo.
Tive contato com procuradores da República, magistrados federais, procuradores federais, procuradores da Fazenda Nacional, defensores públicos federais e enfim, todos eles possuíam uma pedra no sapato, mesmo que já tendo conquistado aquele cargo. O fato é que o ser humano sempre terá uma necessidade, caso não trabalhe a mente para aceitar a vida e aproveitar aquilo que já possui.
Portanto, meus amigos, o que eu quero lhes dizer é: se você estuda para concurso e realmente quer isso na sua vida, estude todos os dias, com constância, mas saiba que isso não é a coisa mais importante da sua vida a ponto de você sempre estar insatisfeito, mesmo tendo algo grandioso. Há pessoas em sua volta que precisam de você, e por vezes, mesmo não querendo, acabamos por machucar essas pessoas com essa nossa insatisfação, seja pelo excesso de estudos, seja pelo ânimo reduzido, ou por qualquer outro motivo que lhe prive de aproveitar o hoje.
Imbuído dessas conclusões, saí do serviço público, deixei de estudar para concurso, isso porque estou contente com o que faço hoje. E mais: pedi minha inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, pois me sobra tempo, e tenho conhecimento a proporcionar àqueles que precisam de um advogado. Afinal, foram anos de estudo, anos de trabalho na área jurídica.
A lição que eu gostaria de deixar para vocês é: não depositem a completude de sua felicidade somente quando você chegar em algum lugar ou conquistar algo. A vida é muito boa para deixarmos para sorrir só quando conseguirmos isso ou aquilo. Vá aproveitando um pouquinho a cada dia, estudando um pouquinho a cada dia, lutando um pouquinho a cada dia, sempre sabendo que você está vivendo como viveria se tivesse alcançado o seu desejo, pois senão a vida será uma eterna frustração, caso você não consiga o seu objetivo, mesmo que por circunstâncias alheias à sua vontade.
Espero que entendam isso, de coração.
Por fim, gostaria de convidá-los a conhecer meu site de advocacia: https://advogadoambiental.adv.br/. O nicho no qual estou trabalhando é o Direito do Agronegócio, envolvendo questões rurais e ambientais, no estado do Mato Grosso e regiões próximas.
É isso, meus caros. Agradeço a todos que foram leitores deste blog. 150 mil pessoinhas já passaram por aqui. Obrigado mesmo!
Vivam a vida hoje! Memento mori!
11 Comments
Excelente texto, boa sorte na caminhada e espero que consiga tudo de melhor!!
Ilustre Diovane, sempre foi perceptível para mim a sua sabedoria e constante busca pelo aperfeiçoamento, sem, com isso, esquecer do próximo, pelo contrário. Seu projeto disponibilizando gratuitamente conhecimento de alta qualidade é uma das provas disso. Suas reflexões neste texto são de grande pertinência e lucidez, algo raro no peculiar mundo dos concursos. Muito obrigado pela partilha e sucesso nesse novo ciclo profissional!
Parabéns pela coragem.
Obrigada por compartilhar seu exemplo, há tempos venho pensando nisso também.
Deus te acompanhe nesse novo caminho.
Bom dia Diovane, entre tantas pessoas para as quais tu falas, eu sou uma delas, que por razão pessoal (provar a mim mesmo), desejo ser juiz federal. E ler o que tu escreveste sobre ser feliz sendo quem somos (sou PCD, então isso é difícil de aceitar), me trouxe um alento. Tu entendes o que muitos sentem e sofrem. Quando li sobre tua decisão em relação ao teu filho, percebi que estava cego, estava olhando e seguindo em direção errada. Hoje vejo que estudar é algo que gosto, que fazia no tempo da juventude. E isso me deixou mais tranquilo, mais calmo. Enfim, mais feliz. Sem me preocupar realmente em alcançar o cargo de juiz, mas ser feliz fazendo o que gosto. Desejo tudo de bom, toda a felicidade para você e sua família. Obrigado.
Sucesso, que sejas infinitamente feliz nessa nova jornada profissional. Só tenho a lhe agradecer por compartilhar tanto conhecimento e sabedoria.
Parabéns pela coragem, a vida é movimento, mas a gente tende a se prender a falsas sensações de segurança. “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade” (Carlos Drummond de Andrade)
Cheguei recentemente ao seu site, e estou desfrutando dos seus trabalhos, são excelentes. Também me questiono sobre sacrificar algumas áreas da minha vida pra realizar um sonho. Fico grato por compartilhar seus anseios. Desejo muita felicidade pra você, e esteja certo que onde estiver você terá muito sucesso. Um abraço irmão e fica com Deus.
Texto excelente!!
Você sintetizou brilhantemente como devemos pautar nossas escolhas e ressignificar o conceito de “realização pessoal/profissional”.
Me senti abraçada com o seu texto.
De forma semelhante, no ano de 2021, eu também pedi exoneração da assessoria jurídica no MPMT, isto depois de 5 anos na instituição.
Inicialmente, morei 5 anos em Sorriso-MT, totalmente longe da família, e depois migrei para Cuiabá, local em que atuei como assessora jurídica.
Foram anos intensos, de muito aprendizado, mas também de muito desgaste emocional e psicológico.
O ano de 2020 foi completamente atípico e nos fez repensar cada escolha e reconfigurar o caminho visando o que mais importa.
Partindo desta premissa, comecei a me questionar se todo aquele esforço era válido e o que eu tinha construído desde então. Afinal, eu estava longe da minha família em função de um trabalho e de algo que não era meu.
Fiquei com aquela sensação de vazio, de impotência, com síndrome de impostora, mas também com a sensação de que eu dediquei anos para algo que não era meu (acho que todo mundo que já passou longos períodos na assessoria jurídica começa a se questionar sobre isso).
Assim, diante das frustrações, das crises de ansiedade e da vontade de arriscar tudo em busca da satisfação pessoal, eu larguei o MT e voltei para o PA.
Recalculei a rota, mas com a certeza de que nada foi em vão e que o sentimento de realização pessoal independe da vaidade de cargo ou de altos dígitos na conta, está intrinsecamente ligado ao bem estar mental e o ambiente em que isso será possível acontecer.
No meu caso, por ora, percebi que será estar perto dos meus…
Boa sorte, Dr. Diovane.
Que Deus ou o destino o abençoe nesta nova jornada!
Grande Diovane,
Desejo muito sucesso na nova fase de sua vida. Suas reflexões são válidas não apenas àquele que continuará a caminhada para o cargo público (ou o próximo, no meu caso), como também àquele que sente que seu caminho é outro (magistério, advocacia, empreender e etc). E está tudo certo. Em verdade, podemos ser felizes em qualquer cargo ou profissão, desde que, claro, atendidas nossas necessidades básicas e de nossa família. A realização pessoal é uma soma de fatores. Nunca será – apenas – o cargo público. Fato. Ser feliz desde agora é o maior desafio. Valorizar o que já se tem é essencial. E sou, também, muito grato pelo cargo atual.
Parabéns pela decisão e pela maturidade de sempre.
Abraços a você e sua família.
William
Diovane,
comecei a estudar com foco para Magistratura Federal agora e descobri o seu site “por acaso”. Entendo sua decisão e desejo a você muitas felicidades e sabedoria nessa nova estrada. Imagino que a decisão tenha sido muito difícil, mas tudo tem uma razão. Admirável a sua coragem!
Que texto! Que lição! Obrigado por tudo. E que você tenha sucesso e muitas felicidades ao lado do seu filho.